Leitura do Livro "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery

Vídeo sobre o livro "A Elegância do Ouriço": https://youtu.be/vTCPml7gfcE 

“… o que é bonito é o que captamos enquanto passa. É a configuração efêmera das coisas no momento em que vemos ao mesmo tempo a beleza e a morte.” (BARBERY, 2008, p. 293)

Imagem do livro A Elegância do Ouriço


Quem somos nós? Onde moramos? Com quem convivemos? O que faz parte dos nossos gostos? De fato, conhecemos as nossas particularidades?

O pronome “nós” engloba, aqui, o coletivo humano, o qual é construído pela interação e pelo convívio social. Porém, se todos nós somos humanos, por que há tantas divisões e estigmas em nossa sociedade? Vivemos conectados ou vivemos para o nosso próprio “eu”? São indagações que perturbam o nosso interior acomodado por vezes , mas que resgatam nós, seres humanos, da nossa inclinação egocêntrica. Por certo, a cultura e a classe pelas quais estamos inseridos dizem muito sobre nós e podem ajudar a respondermos essas perguntas. Todavia podemos aspirar por novos resultados acerca de nossa própria identidade.


As questões acima surgem ao ter acesso aos pensamentos de Renée e Paloma, narradoras de A Elegância do Ouriço. As duas pintam o cenário do modo mesquinho de se viver da elite parisiense, o qual grande parte destes deixa ser conduzida por seu embasamento em preconceitos e estereótipos, dominando e menosprezando a população de classe inferior. Que angustiante! Como prosseguir com a vida em meio a um contexto extremamente injusto? Os queridos personagens criados por Muriel Barbery desvelam isso.


Renée, zeladora de um prédio da classe alta, possui a elegância de um ouriço, isto é, ela utiliza uma máscara construída socialmente de uma trabalhadora inculta, quando na verdade é uma senhora inteligente e admiradora da Arte:

“A sra. Michel tem a elegância do ouriço: por fora, é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas tenho a intuição de que dentro é tão simplesmente requintada quanto os ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes.” (BARBERY, 2008, p. 152)


A zeladora é invisível para muitos, porém, visível para aqueles que encontram a preciosidade dentro dela: Manuela, Kakuro e Paloma. Os três personagens são queridos por Renée da mesma maneira em que ela é querida por eles , independentemente dos obstáculos financeiros que geram (na concepção da população) um empecilho entre o carinho dessas almas.


Paloma, garota de 12 anos da classe alta, está exausta do cotidiano esnobe e vazio de sua família e dos seres que fazem parte do círculo da elite. Ela decide, então, suicidar-se e pôr fogo no apartamento em que mora; porém, desiste após compreender que a angústia da vida pode ser amenizada quando há uma breve pausa para entrar em contato com o próximo e com a Arte: “... um sempre no nunca” (BARBERY, 2008, p. 350).


Em consequência, ainda que o nosso mundo seja permeado de desconsolos, as narradoras o superam em um desfecho surpreendente: o impacto e o significado pelo qual a morte altruísta de Renée traz para elas. À vista disso, Paloma encontra o sentido da vida, como também Renée deixou-se ser desmascarada (positivamente) e permitiu que amigos entrassem em seu universo. Quão grande exemplo que traz esperança em um mundo desesperançoso! Apesar das diferenças sociais, juntos nós podemos ser pessoas melhores, podemos ser as nossas melhores versões, assim como Renée e Paloma.


Por fim, o enredo deste livro faz-me refletir sobre como enxergamos e tratamos o próximo. Onde moramos, com quem convivemos e do que gostamos não devem ser ponto de partida para promover a desunião entre os indivíduos; mas sim para promover a unidade, a fusão de identidades as quais formam um todo os seres humanos. Portanto, vivamos desvinculados das armadilhas do preconceito e do estereótipo criados em sociedade.


Ouso, assim, responder ao pensamento profundo de Paloma: “Mas e se, no nosso universo, existir a possibilidade de nos tornarmos o que ainda não somos… será que saberei agarrá-la e fazer de minha vida um jardim distinto do de meus pais?” (BARBERY, 2008, p. 210). Sim, Paloma, podemos seguir nosso caminho e buscar a nossa melhor versão, da mesma maneira pela qual vocês, personagens tão incríveis, procuram viver para além dos infelizes limites sociais, valorizando o belo daquilo que se é e não daquilo que se tem.



REFERÊNCIA 

BARBERY, M. A Elegância do Ouriço. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.


Confira, também, minha postagem sobre o livro "O Filho de Mil Homens"Leitura do Livro “O Filho de Mil Homens” de Valter Hugo Mãe (kissyapibid.blogspot.com) 

  


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